Um dos fenômenos da internet que mais me chama a atenção é a capacidade que os e-mails têm de dar credibilidade a qualquer informação, por mais surreal que possa ser. Desde que a internet é internet que existem spams*, hoaxes**, correntes*** e outras coisas do gênero. Não se sabe ao certo quando nasceram essas coisas, mas acredito que a primeira mensagem enviada na Arpanet**** tenha sido aquela do sequestro para roubar os rins do cara, pobre do outro que a recebeu, que ainda não tinha para quem re-encaminhar a mensagem!

Mas bem, o que faz com que os e-mails tenham tamanha credibilidade? Qual é a fonte de convencimento que existe neste veículo que o torna tão convincente? A resposta é a tecnologia que ele representa. O e-mail para a maioria das pessoas é a porta de entrada para o mundo mágico da internet, a bandeira hasteada da modernidade. Ao ler um e-mail o cidadão subliminarmente lembra-se das máquinas de escrever, das cartas postadas pelo correio, daquela coisa em preto e branco, velha e ultrapassada. Na verdade a confiança na modernidade e na tecnologia é inocentemente transferida para o conteúdo das mensagens que chegam pomposamente por este incrível veículo chamado e-mail.

O que infelizmente muitas pessoas não percebem é que qualquer um pode se passar por aquele famoso jornalista, político, astro de TV. Não se dão conta que por mais que seu parente, patrão, amigo ou quem quer que seja o remetente jamais mentiria para você não quer dizer que aquele e-mail seja real. Acredite: povo honesto e gente boa igual você também se ilude com a infalível crença nos e-mails. Provavelmente no início daquela corrente sobre cartilhas americanas com a Amazônia internacionalizada tem um camarada muito criativo rolando de dar risada e orgulhoso por sua baboseira ter ganhado o mundo às custas da inocência alheia.

Sei que me enquadro dentre os céticos dos céticos quando o assunto é e-mail e já me passei por chato em muitas listas quando um desses hoaxes chega. Quem sabe não precisa tudo isso, ou até pode ser dor de cotovelo por nunca ter conseguido emplacar um grande boato, mesmo sem nunca ter tentado. Mas acredito que um pouco de realismo não faz mal a ninguém, afinal ainda sonho com uma internet mais útil e pé no chão e para isso aconselho que as pessoas pesquisem um pouco antes de encaminhar qualquer mensagem, ver se aquilo saiu em um site, televisão ou revista confiável. Procurar saber se o Professor, mestre ou doutor que assina a mirabolante pesquisa realmente existe. Ao tentar fazer isso verá que a maioria dos boatos não tem nada disso, não tem nomes reais, fontes ou datas.

Nesta hora não se sinta envergonhado por ter acreditado que o cara tirou aquela foto no terraço do WTC momentos antes do avião bater em 11 de setembro, e por você nem ter se perguntado como a câmera poderia ter sido achada com a memória inteira, ou não ter se questionado quanto à nitidez do avião na foto. Tudo bem, você não foi o único, mas prometa que mudará de postura e que a partir de hoje ajudará a combater a disseminação de abobrinhas por e-mail. Se apenas mais um entrar nesta luta, este post terá valido a pena, afinal não podemos deixar que as pragas corroam esta fantástica ferramenta que é o e-mail.

* Spam: E-mail de propaganda enviado indiscriminadamente para milhares de pessoas;
** Hoax: Boatos ou lendas urbanas da internet, espalhadas por e-mails;
*** Correntes: Vai dizer que não sabe? Repasse agora para 10 pessoas e ganhe dinheiro da Microsoft;
**** Arpanet: Primeira rede de computadores do mundo, desenvolvida no Pentágono durante a guerra fria.